Domingo, 29 de Fevereiro de 2004

Crescer com os outros

É muito bom partilhar um espaço com gente que não se acomoda à mediocridade e impulsiona o nível da discussão para patamares mais elevados. Discussão, reflexão ou achegas que buscam a transcendência, que aclaram percursos, que nos fazem crescer. As ideias tornam-se intemporais e impessoais quando são apropriadas e se reconfiguram. Tem sido assim desde a minha entrada na blogosfera. Devo uma grande parte desta minha aprendizagem, desta minha caminhada para ser mais e melhor, aos blogues amigos, aos meus referenciais vivos, às minhas âncoras conceptuais, aos meus portos de abrigo. Esta ânsia de empanturrar as palavras com sentido, dispensando floreados ocos de sentimento não se compadece com arrufos de ocasião e constrangimentos circunstanciais. Não escrevo à flor da pele como é apanágio de alguns amigos que optaram por fazer transbordar a emoção da sua escrita. Prefiro acariciar a palavra, prolongar a escrita, ampliar a ideia, prolongar o assunto. Que bela forma de compensar a minha emotividade primária que vai transparecendo da proximidade pessoal.

No Rio Torto (uma descoberta recente mas ainda a tempo de nos surpreender) as palavras não são ocas. A libertação, o “Golpe de Asa” que nos espanta e aos outros que nos lêem, está tão perto e tão longe.

publicado por Miguel Pinto às 19:06
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Sábado, 28 de Fevereiro de 2004

A escola-fábrica.

Encontrei uma boa discussão aqui. Uma notícia da SIC relativa ao número de analfabetos em Portugal introduziu-se a questão dos analfabetos funcionais que a Escola reproduz.

A notícia acabou por ser um pretexto para que se tocasse um problema de fundo. A nossa Escola não é uma escola personalista é uma Escola que requer um aluno-massa, um anónimo na indiferenciada escola-fábrica. É por este facto que se fala tanto de alunos “normais”, como se vê neste texto:

“Para os alunos normais tem que haver maior rigor no ensino e mais exigência por parte dos professores. O aluno "é obrigado a andar" ao ritmo que o professor estipula para ele e não o contrário. Nós, os professores, é que temos que puxar pelo aluno. Alguns ficam pelo caminho. Como em tudo, na vida. Mas os restantes, fazemos deles Bons alunos que não se envergonhem a eles nem a nós, no futuro. Assim se combate o insucesso no ensino: "puxar" ao máximo pelos médios, desafiar em alta os bons e esquecer os maus. Ensinar o máximo a quem quer aprender! Conseguiremos subir as estatísticas e, mais importante do que isso: em vez de ensinarmos não mais que rudimentos a 20 porque só assim conseguimos com que os 3 piores acompanhem, ensinaremos tudo o que está no programa (e a té mais) a 17

publicado por Miguel Pinto às 09:52
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Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2004

Deve a escola ter problemas de lateralidade?

Deixem-me acrescentar três notas à discussão sumária sobre esta coisa da esquerda e da direita iniciada pelo Manuel, continuada por mim e retocada no Mundos da Educação.

Primeiro acrescento: Numa conversa com a colega que coordena o projecto “JOVENS SAUDÁVEIS EM ACÇÃO: Projecto de Educação Sexual” falávamos de algumas das medidas anunciadas em matéria de educação sexual por este governo e esta maioria. Murmurávamos sobre o papel da comunicação social que não se limitava a informar e a esclarecer e a (in)acção dos professores. Ao meu lamento pela reduzida participação/reacção dos professores quando confrontados com medidas governativas inconsequentes, a colega lembrou-me de um aspectos que caracterizam o dia-a-dia de um professor e que o afastam deste palco onde a vida também se decide. A intensificação e a absorvência do trabalho docente acabam por desviá-lo de uma área de intervenção que se intromete na qualidade do seu trabalho e cujas consequências se manifestam na alienação da actividade política.

Segundo acrescento: Um eventual alheamento pela actividade política nacional ou local não significa que os professores estejam imunes à interferência da política nas suas vidas. Em primeiro lugar, pelas razões já assinaladas na primeira nota. Em segundo lugar, porque a escola é um espaço de conflito. Só com muita distracção é que não é possível acompanhar os movimentos da praga dos acólitos e das oligarquias que vão conquistando o seu espaço nas escolas utilizando refinadas técnicas de manipulação e que se dispõem a abandonar os seus postos, exclusivamente, de forma compulsiva.

Terceiro acrescento: Não conheço ninguém que defenda a unidimensionalidade da escola. Os discursos de direita e de esquerda apelam à pluridimensionalidade da escola porque o desenvolvimento integral do aluno assim o impõe. Uma escola cultural é por definição uma escola pluridimensional. Porquê uma escola cultural? Porque a finalidade da “(...) escola cultural não se restringe o seu programa educativo ao catálogo positivista dos saberes ditos «científicos», pois quer acolher a totalidade das formas do saber humano, a cultura humana em toda a sua riqueza. De onde se deu o nome de Escola Cultural” (Patrício, 1996:156).

Será possível encontrarmos uma Escola imune aos desatinos da esquerda e da direita? Se afastarmos a hipótese da reconfiguração do sistema educativo e da sociedade (embora perceba a proposta do J.P. Serralheiro), qualquer modelo de escola (o Manuel não se importará que eu insista) dependerá de um quadro normativo, sempre da responsabilidade do poder político.

publicado por Miguel Pinto às 21:21
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Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2004

Paradoxos de uma história mal contada

Embalado pela provocação do Manuel dirigida a alguns dos sectores da política “activa”, dos quais eu não me incluo, vou desabafar. Não embarco no combate político “puro e duro”, neste caso particular, entre duas das esquerdas que nunca souberam entender-se. Reconheço que me faltam as ferramentas para construir uma linha de argumentação minimamente coerente neste combate de ideias.
Mas, antes de passar ao assunto que me suscitou este olhar, avanço com dois reparos:
1. Todos os partidos terão telhados de vidro neste período tão curto de história democrática. Só com alguma distracção é que não se vêem as oportunidades desperdiçadas pelos partidos políticos que dispensaram o debate das grandes causas para preencher o seu tempo de antena com assuntos menos relevantes, porventura, mais mediáticos.
2. Entendo que as críticas consubstanciadas no esgrimir dos argumentos políticos visam avivar memórias e ajudam-nos a situar no debate. Assisto com agrado a este jogo desde que jogado com regras claras e elevadas. Todos os partidos políticos têm algo a dizer aos outros e algo para ouvir dos outros. É usual assistirmos ao ping-pong trapaceiro de argumentos sectários entre dirigentes políticos que adoptam uma lógica em que os fins justificam todos os meios. A cultura populista tomou as rédeas do poder partidário.

Dos reparos passo a enquadrar o assunto. Agarro o tema da incongruência e da inoperância política revelada por este ou aquele partido num dado momento da sua história para aclarar algumas das considerações proferidas noutras paragens e que encerram, eventualmente, alguma ambiguidade. Como não sou refém de nenhuma espécie de partidarismo, posso adoptar sem preconceitos e com desprendimento as posições que a minha “disfarçada” neutralidade aconselha.
Considero que uma discussão marcadamente política da educação poderá gerar algum desfazamento entre a agenda política e o ritmo da mudança. Como ainda não é possível, no nosso quadro social actual, iniciar uma reforma ignorando a Lei, os equívocos e as incongruências acabam por extravasar das Reformas, Reorganizações Curriculares e de outras soluções que se apresentaram no percurso evolutivo da educação no nosso país.

A primeira incoerência que quero destacar está representada pelas posições da Comissão da Reforma do Sistema Educativo (CRSE) criada em 1986 e que abriu caminho à reforma personalizada pelo ministro Roberto Carneiro. Para se perceber o que digo é necessário não confundir a fase da preparação da reforma (realizada pelo ministro J. Deus Pinheiro) com o período da sua concretização. Sugiro, se me permitem o atrevimento, uma passagem pela obra de M. F. Patrício, nomeadamente, pela Escola Cultural. Esse trabalho vem corroborar a tese de que as intenções são contestadas pela forma como as reformas funcionam na prática. Percebi como é que uma reforma humanística se transformou numa reforma tecnocrática. Como é que se propõe uma lógica reformadora pedagógica e se opta por uma lógica reformadora burocrática. Ainda hoje soam as trombetas de alarme quando se fazem referências à reforma ou às reformas. Ouvimos dizer que as reformas ou mais precisamente os efeitos destas reformas criaram uma onda social de descontentamento. As pessoas fartam-se de ouvir falar na reforma e com cepticismo olham para as soluções. Em vez de enveredar por este caminho, talvez fosse mais fácil, questiono se a proposta da CRSE passados estes 18 anos continua a ser viável? Lembro que as maiores críticas à actual LBSE incidem em nos aspectos que obstruem as incursões neoliberais e neoconservadoras.
Recuando no tempo, há que responsabilizar todos os responsáveis pelo desvio da rota que a CRSE propôs. E nenhum partido político, do governo ou da oposição, está isento de responsabilidades nesta matéria. O governo PSD, porque não foi capaz de perceber que a ideia de escola que estava expressa no Projecto Global de Actividades da CRSE era a ideia de escola da LBSE. Na verdade, nunca tivemos uma escola pluridimensional/cultural, embora fosse essa a ideia de escola que estava subjacente aos documentos produzidos pela CRSE. A oposição, porque procurou desqualificar a CRSE dando a entender que se tratava de um grupo de assessores do ministro da educação e que essa comissão teria sido formada para se substituir à função legislativa da Assembleia da República. Os órgãos de comunicação social, porque andaram a reboque do aproveitamento político dos partidos políticos da oposição relegando a CRSE para uma posição de subalternidade relativamente a um dos numerosos grupos de trabalho que constituíam a comissão.
A reforma educativa terá como meta o sucesso para todos e para cada um. O conceito de sucesso é um dos mais equívocos em circulação no mercado pedagógico. Com efeito, o sucesso escolar é quase sempre identificado com o sucesso administrativo, quando o que verdadeiramente está em causa é o sucesso educativo, que consiste em ter conseguido realizar as aprendizagens pretendidas. O sucesso educativo é uma realidade complexa, incluindo diversas facetas: a da condição pessoal, a institucional, a sistémica e a social. Não é possível, efectivamente, dissociar o sucesso educativo: do próprio educando, da escola, do sistema educativo na sua globalidade e da sociedade em que o educando e sua família se integram.
Uma segunda grande linha de força da reforma terá de ser a democratização do sistema educativo, a qual é uma exigência da Constituição da República e especificamente da Lei de Bases. A democratização tem que exprimir-se nos seguintes âmbitos ou aspectos: na organização estrutural do sistema, na lógica da sua administração, nos conteúdos de educação e ensino, na possibilidade de acesso aos diferentes segmentos, nas condições de fruição de serviços e actividades, nas oportunidades de sucesso. O quadro mais amplo em que se inscreve a democratização do sistema educativo é, obviamente, o da própria sociedade portuguesa. Pretende-se um sistema educativo mais democrático dentro de um Portugal mais democrático.
Importa determinar qual irá ser o desenvolvimento programático da reforma. Convirá, para o efeito, definir com clareza as áreas da intervenção reformadora. Distingamos, metodologicamente, as áreas educativas sectoriais e as áreas de suporte educativo. Aquelas compreendem, no respeito pela LBSE, a educação pré-escolar, a educação escolar, a educação extra-escolar e o ensino particular e cooperativo. Estas compreendem as estruturas de administração, os recursos humanos, as redes de educação pré-escolar e de educação escolar, a investigação científica e os apoios e complementos educativos...
O terceiro equívoco que quero assinalar prende-se com a política educativa do PS (de 96 a 2000) que não se demarcou, substancialmente, da política do governo antecessor. As diferenças, meramente ocasionais, estão representadas por um conjunto de medidas que se consubstanciam na ideia de equidade e coesão social e que, efectivamente, não provocaram os efeitos desejados nos actores a quem elas se destinavam – os alunos. Já expressei a minha desconfiança em relação às políticas educativas neoliberais e neoconservadoras e fico muito preocupado quando vejo a esquerda a consolidar estas políticas. E a minha preocupação não se deve ao entendimento que seria desejável existir na assembleia da república porque a lógica adequada à natureza da educação é de longo prazo. Os interesses imediatos (políticos, sindicais, autárquicos, das associações de pais, de estudantes, religiosos, das empresas, etc.) não deviam obstruir os interesses mais profundos, do longo prazo (o desenvolvimento do País, a elevação do nível cultural e educativo da população, o equilíbrio entre a tradição e a inovação, etc.).
Quarto e último paradoxo – Ainda não fui capaz de perceber como é que os diversos partidos políticos conceptualizam a colaboração? Sei que é uma questão muito cândida, talvez descontextualizada. Mas as perguntas simples nem sempre suscitam respostas evidentes. Acredito até que a resposta já tenha sido dada. Seria deplorável que a lógica do vale tudo no combate político fizesse implodir o nosso sistema democrático.
publicado por Miguel Pinto às 15:20
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Educação sexual e o faz de conta.

Enquanto o executivo vacila e os jornais tentam disfarçar a inoperância política, há gente “anónima” no terreno a trabalhar na matéria. Afastadas dos loobies políticos e puritanos, estas pessoas e as suas opiniões serão irrelevantes para quem decide, porque o que conta é o faz de conta.
Embora ainda não esteja disponível o endereço do projecto “JOVENS SAUDÁVEIS EM ACÇÃO: Projecto de Educação Sexual”, e para que todos possamos perceber do que se trata, aqui se dão conta das linhas mestras do referido programa.
“Este projecto visa, fundamentalmente, produzir e difundir conhecimento sobre as dinâmicas de educação sexual criadas na escola por um grupo de professores, com a colaboração, quando possível, do(a) psicólogo(a) escolar e do(a) médico(a), que previamente participaram numa "Oficina de Formação" orientada pelo investigador. A estruturação desta formação contínua de professores foi feita com base nas concepções detectadas na primeira etapa da investigação, entre 87 professores de vários grupos disciplinares, 16 médicos e 5 psicólogos escolares, das escolas do Distrito de Braga, e dá total ênfase ao trabalho orientado para a acção e a uma metodologia orientada para o aluno.
O projecto está estruturado em duas fases:
- Formação Contínua de professores: os professores para colaborarem neste projecto frequentaram a Oficina de Formação "Promoção da Saúde e Educação Sexual";
- Implementação na escola de um Projecto de Educação Sexual.
É um projecto baseado na abordagem IVAM de Bjarne Bruun Jensen: Investigações- Visões, ideias ou percepções- Acções & Mudança.
Inclui actividades curriculares disciplinares, curriculares não disciplinares e de enriquecimento curricular.
Os objectivos são os seguintes:
- Promover a participação genuína dos estudantes na selecção dos problemas de saúde sexual e reprodutiva, nas suas visões sobre eles e nas tomadas de decisão envolvidas no processo de acção;
- Partilhar as acções de saúde sexual e reprodutiva realizadas nas várias escolas envolvidas neste Projecto;
- Explorar visões sobre a saúde sexual e reprodutiva entre alunos da mesma escola, das escolas envolvidas no projecto e, quando adequado, de outras escolas nacionais e estrangeiras;
- Desenvolver e testar estratégias para conhecer como é que a TIC pode fortalecer o trabalho das escolas na educação sexual e reprodutiva;
- Desenvolver métodos para incorporar as perspectivas anteriores no currículo escolar de maneira a inspirar e informar outros professores interessados.”

Quem ganhará com o isolacionismo institucional a que estão votadas as instituições de ensino superior, as escolas secundárias e as escolas básicas?
Será ou não irrelevante saber a quem cabe dar o primeiro passo em direcção à colaboração?
Não seria sensato que a iniciativa deste processo de aproximação fosse determinada pelas características do contexto em vez de a impormos através de um qualquer modelo piramidal?
publicado por Miguel Pinto às 10:57
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Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2004

Dia de carnaval - Um breve olhar pela imprensa

Brincadeiras de carnaval? 1 2 3 4 5

publicado por Miguel Pinto às 12:34
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Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2004

A performance numa escola inclusiva

No Rio Acima encontrei um texto de António Teodoro que não me deixou indiferente. A questão é a seguinte: “É possível à esquerda, nos tempos de hoje, construir as bases de um novo senso comum, capaz de ajudar a formular uma agenda educacional de um novo bloco social interessado em impulsionar (e realizar) políticas progressivas de paz, justiça social, felicidade e liberdade?”

O autor quer contribuir “para a construção de uma agenda educacional, capaz de gerar novos sensos comuns mobilizadores de esperança e de acção transformadora”, e enuncia três pontos de partida. Remetendo a descoberta das propostas do autor para o texto original, foi o terceiro ponto de partida que suscitou este olhar.

“O terceiro ponto de partida pode ser expresso na tentativa de materialização da consigna uma escola de excelência para todos, entendida como uma resposta (e uma alternativa) à crítica que os neoconservadores fazem ao abaixamento da qualidade do ensino e às pedagogias da escola actual. António Magalhães e Stephen R. Stoer (2002, 2003) pensam em encontrar essa alternativa construindo um continuum heurístico entre pedagogia e performance, lembrando que se a pedagogia sem performance não é "nada", como defendem os neo-meritocratas mais radicais, também não há performance sem pedagogia, pois, por mais mecânico que seja o conhecimento, ele é sempre "veiculado", ou seja, mediado por um processo pedagógico.”

Aproveitando os resquícios de uma discussão análoga na área da educação física entre o desporto de rendimento e o rendimento desportivo o que é que vejo? Observo um desporto de rendimento associado a um sistema educativo meritocrático e a performance associada ao rendimento desportivo enquanto objectivo ético a ser perseguido. Se a defesa do desporto rendimento na escola é um equívoco na medida em que não é possível praticá-lo neste contexto devido à ausência dos pressupostos necessários, o mesmo se passará com um sistema de ensino que adopte como quadro de referência a meritocracia.

A conceptualização do rendimento, enquanto grandeza cultural e moral, legitima a subordinação da performance à pedagogia. Um elemento que poderá ser acrescentado neste esforço de reconstrução do senso comum é a afirmação do significado em vez da excelência (Graça, 2003): "O significado é ponte da passagem da acção humana, o que é importante para cada um de nós; o significado concorre para a busca da excelência; o significado é um valor mais democrático. Está ao alcance de todos.”

O argumento do significado não rejeitará, bem pelo contrário, a presença do rendimento, da competência, comprovação, auto-avaliação e da competição. Só a presença do significado abrirá caminho a um escola com sentido.

publicado por Miguel Pinto às 21:50
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Sábado, 21 de Fevereiro de 2004

Contra-ciclo

Vou reduzir e procurar não empobrecer a discussão sobre esta coisa da mudança. Eu sei que a palavra está quase gasta de tanto uso. Mas nós somos mudança, o mundo é composto de mudança e por esse facto a mudança pronuncia a vida. E como muda a vida o sistema educativo também vai mudando. Empurrado pela dinâmica social e pelas políticas educativas que lhe subjazem a evolução do sistema educativo pós 25 de Abril é descrita por 4 ciclos: revolução, normalização, reforma e descontentamento.

Ora é exactamente aqui que eu me situo. Encontro-me em contra-ciclo. Isto é, estou numa fase do contentamento. Não, não acabei de beber um bom maduro tinto embora o aprecie muito. Também não estou agarrado aos fármacos e não vou procurar refutar o diagnóstico da prof. João Barroso. O que se passa é que neste processo um passo atrás não significa, forçosamente, retrocesso. Pela mesma razão um passo em frente em direcção ao abismo não significará progresso. Numa escola situada tudo tem a ver com tudo. E nem sempre há um sincronismo entre as mudanças sociais mais abrangentes e a mudança naquele microcosmo. Como refere e bem o Manuel, este movimento não significa que o sentido dessas alterações é o mais adequado ou correcto e que a mudança não corre ao ritmo do qual todos precisamos, que não tem a dinâmica que gostaríamos.

Estou em contra-ciclo porque a Escola Cultural ainda faz sentido, cada vez mais sentido. E é este o meu drama. Como dizia o poeta é um contentamento descontente.

publicado por Miguel Pinto às 12:01
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Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2004

O Analfabeto Político

A partir do Rio Torto (vale a pena passar por lá) destaco o manifesto do Bertolt Brecht que se transcreve porque "é um contributo para a mudança em que penso nos devemos envolver e deixar envolver".

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, o corrupto e lacaio das multinacionais
."

Bertolt Brecht

publicado por Miguel Pinto às 21:53
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Metamorfose?

 Tenho conversado muito nos últimos tempos. São aquelas tertúlias fortuitas que aproximam a nossa vida profissional e pessoal e que apoiam o nosso crescimento. Os problemas são discutidos sem receio de reprovação ou de punição e permitem estabelecer os nossos próprios limites de exigência profissional.

É uma sensação estranha andar em contra-ciclo. A escola paralela (das explicações) vai conquistando, paulatinamente, o apoio dos pais, encarregados de educação, professores mercantis e alguns órgãos de gestão que cedem às pressões de um sistema educativo cada vez mais elitista. Inexplicavelmente, neste quadro cinzento que vai escurecendo com o tempo, sinto-me animado. Vejo, como há muito tempo não via, carapaças a estalar. Não é o desejo das práticas colaborativas que desencadeia este pulsar cada vez mais intenso da escola situada. Isso era ouro sobre azul. O que eu vejo é uma reacção defensiva de quem rejeita ser empurrado para o abismo. Como há males que trazem bens, a escola não poderá desperdiçar esta oportunidade para questionar as práticas dogmáticas, as rotinas que serviram os interesses instalados e que tem obstado a mudança.

Este meu entusiasmo não sei quanto tempo durará, mas enquanto persistir vou idealizando a metamorfose: Quem sabe se esta escola acrítica e assexuada, como um colega a denominou, não se transfigurará numa escola dinâmica e reflexiva?

publicado por Miguel Pinto às 19:42
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