Segunda-feira, 29 de Março de 2004
Não me agrada deixar a questão que deu o título ao post anterior sem um remoque.
É verdade que um mundo melhor é caro. É caro porque exigirá muito mais de nós. É caro porque os modelos societários emergentes não tendo conseguido conciliar o desenvolvimento económico sustentado na liberdade, no respeito dos direitos humanos, no acesso ao conhecimento, na aceitação da diferença e na transculturalidade, exige um novo olhar sobre os pilares onde queremos assentar o nosso edifício civilizacional.
Os discursos neoliberais que nos acenam com a bandeira do desenvolvimento económico serão assim tão ingénuos?
Domingo, 28 de Março de 2004
Alienação. Porque não?
Quarta-feira, 24 de Março de 2004
É com prazer que cruzo olhares sobre a escola. Quando decidi entrar na blogosfera prometi recusar a hostilização das posições, ideias, pontos de vista, ou utopias alheias. Voluntariamente nunca o fiz. Rejeito a injúria gratuita, prefiro o discurso elevado. Não troco uma conversa viva, séria, despida de conformismo e que sublinhe a diferença por uma bafienta unanimidade que decorra de uma pretensa vassalagem. Regozijo quando descubro pontes, convergências, projectos comuns, utopias similares. Não esmoreço com os desacordos porque os classifico de recomeços. Gosto de afinar a discussão pelo diapasão da qualidade do argumento minimizando os constrangimentos que possam advir do confronto com a figura, o estatuto ou o legado dos actores. Tem sido assim na blogosfera. Parece um discurso de despedida mas não é. É uma vontade de sair com pressa de chegar.
Tem sido grande a generosidade das pessoas que por aqui passam. Os vossos comentários têm revelado olhares atentos, mordazes, supostamente genuínos. É muito bom estar convosco. Contudo, impõe-se uma pausa que durará até domingo. O destino podia ser Milão mas não é. Entre o fervor clubista e um passeio com o mickey decidi-me pelo último.
O que é que um pai não fará pelos seus?
Até lá não deixem atrofiar a conversa.
Segunda-feira, 22 de Março de 2004
Um comentário ao post do
Miguel:Eu acredito na pós-graduação, na formação contínua, na necessidade de renovarmos o conhecimento porque ele é efémero, no professor reflexivo. Creio que será legítimo para quem se compromete com a orientação pedagógica equacionar num horizonte temporal próximo uma pós-graduação em supervisão pedagógica. Porém não estou certo que a obrigatoriedade de uma certificação resolva o essencial do problema. Por hipótese do absurdo teríamos de aceitar que os actuais infractores estariam dispostos a certificar a sua incompetência. Será que ao exigirmos a obrigatoriedade de uma pós-graduação em supervisão pedagógica não estaríamos a promover um ritual (tal como acontece actualmente com a formação contínua creditada) que não trucidaria as perversidades que alastram no sistema? Que iria legitimar a continuidade das manigâncias que envolvem orientadores e supervisores?
Domingo, 21 de Março de 2004
Confesso o meu gosto pela escrita de José Pacheco. Leio assiduamente a sua
página e os artigos de opinião no
Educare.No
aprendiz de utopias,Pacheco diz que
um exame é um mero instrumento de discriminação, de selecção arbitrária, até mesmo de exclusão escolar e social. Por ironia, na tradição académica, o "bom professor" é, frequentemente, o que consegue mais elevados índices de reprovação. É evidente a ingénua crueldade das vítimas da rigidez e do acriticismo. Os exames constituem-se, não raras vezes, em instrumentos de poder simbólico, álibis de profissionais irresponsáveis, acomodados, alienados, facilitistas. Palavras sábias.
Dirão os estimados leitores, com razão, que a disciplina que tenho o prazer de leccionar é diferente. Paradoxalmente, a marginalidade imposta à corporalidade na escola tem impedido que o falacioso rigor e exigência que supostamente transparecem dos exames e dos testes escritos faça a sua incursão por esta área disciplinar. Os mais incautos dirão que a educação física não avalia competências, não exige conhecimentos, não suscita a reflexão, não olha para os alunos e para as suas necessidades.
Como diria o meu amigo Miguel, será que olhamos para os exames como aquele carpinteiro que só tem um martelo como ferramenta e por isso, para ele, todos os problemas são vistos como
pregos?
Já referi lá mais para baixo que
o ensino não é um assunto unicamente técnico mas também moral. Remeti para segundo plano, intencionalmente, as competências. Os determinantes do exercício da competência, nomeadamente, os valores, a motivação e a atitude positiva face à profissão são transversais e percorrem todas as áreas de desempenho docente. Supostamente estes determinantes teriam de ser trabalhados em todas as áreas do desempenho organização e gestão do processo de ensino e aprendizagem, intervenção na comunidade escolar, relação com a comunidade, desenvolvimento profissional (autoformação, prospectiva da profissão, sistematização da reflexão, etc.).
Deixemos por instantes os determinantes para olhar o quadro em que se desenvolve a socialização destes professores.
Será que as agruras do contexto onde se desenvolve este processo legitimam a construção de uma falsa profissionalidade? Serão irreparáveis as marcas deixadas pela precariedade do emprego, pelo descrédito da escola e dos seus profissionais, pelos esquemas perversos que juntam orientadores e supervisores fugidios?
Sábado, 20 de Março de 2004
Os núcleos de estágio proliferam pela escola. Presumivelmente, com esta incursão estariam garantidos processos de renovação, de inovação, de iniciativa, de abertura, de criatividade, de reflexividade. Assisto à defesa da criação ou manutenção de um núcleo de estágio na escola baseado numa crença, como se tratasse de um processo osmótico, de que o calor irradiado pelas novas ideias quebram o gelo que isola os departamentos/grupos disciplinares curriculares e por arrastamento a escola. São os professores residentes os maiores defensores desta tese.
É o reconhecimento letárgico?
Sexta-feira, 19 de Março de 2004
Há meses que procuro suster a minha vontade em olhar para uma área fundamental do profissionalismo docente o estágio pedagógico. Tenho hesitado em abordar este assunto por duas razões:
Em primeiro lugar, pela minha dificuldade em atacar a raiz dos problemas. Falar do estágio pedagógico isolando-o do processo de formação inicial seria uma visão demasiado simplista e empobrecedora que apenas nos permitiria aceder à rama dos problemas. Um estágio pedagógico visa a integração de um estudante no exercício da sua vida profissional regendo-se pelas normas da instituição universitária e por um quadro legal específico. Esta particularidade normativa comprometerá uma análise generalista em virtude da diversidade que subjaz aos diferentes planos de estudo. Para aprofundar esta temática há que a situar na extinção do (Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores) e na discussão que envolve a criação da Ordem de Professores. Matéria demasiado complexa que suscita outros olhares.
Em segundo lugar, a dinâmica do núcleo de estágio interage com a cultura da escola e, presumivelmente, com a subcultura do departamento/grupo disciplinar. Ora, esta incursão pela escola situada que busca um olhar profundo sobre o estágio pedagógico suscita um desprendimento na observação que eu não quero ter.
O que é que mudou?
Foi um dia tão longo que nem dei pela noite. Para terminar, uma reunião da Associação de Pais desprovida de significado. Não se falou de educação, instrução, alunos, pais, filhos, professores, escola, comunidade, pessoas. Ouvi falar em contas, euros, balelas.
Não quero recuperar o tempo. Quero recuperar o discernimento.
Terça-feira, 16 de Março de 2004
No post "Educação sexual e o faz de conta" anunciei um
Projecto Piloto de Educação Sexual. Ao contrário do que é veiculado pela comunicação social a escola situada vai pulsando. Sem grande aparato, longe da demagogia oficial, arredados da bazófia rica em promessas e resultados escassos, os professores olham para os seus alunos deixando-se guiar pelas suas necessidades.
A educação sexual, por estranho que pareça às elites iluminadas que dizem conhecer a escola só porque lá passaram, é uma preocupação, é uma emergência para todos os que se cansaram de esperar pelas tardias orientações e decisões oficiais. Estes exemplos de tenacidade reflectem o lado da escola que ainda não definhou. Mas cuidado. Estes fogachos não se propagam com hipocrisia.