Não me sinto obrigado a corroborar teses corporativas. Tenho procurado promover análises suficientemente distantes dos interesses mesquinhos e pessoais, busco os constrangimentos (locais ou nacionais) que obstruem as iniciativas locais e impedem o desenvolvimento dos diversos projectos educativos, denuncio práticas depravadas dos diversos actores educativos, aponto soluções quando elas se afiguram como tal. Demarco-me, categoricamente, de um seguidismo acéfalo que poderá manter um statu quo mas que conduzirá ao atrofiamento da profissão, na medida em que a fará desligar das mutações sociais e impedir a sua regeneração.
Aproveito a esta entrada para clarificar algumas ideias:
Uma escola que promove a escola paralela dos explicadores ou dos centros de estudo é uma escola inscrita no ideário neoliberal mitigado. Esta ideia está admiravelmente desenvolvida por José Pacheco aqui. Na página 10 pode ler-se: O Estado neoliberal identifica-se nas práticas de segregação e de produção de desigualdades reais porque não põe em risco os interesses e a liberdade individual. (...) As práticas neoliberais perspectivam a educação como sendo um dos pilares fundamentais no edifício económico, sobretudo se for entendida como mercadoria, produto, bem de consumo e não propriamente como serviço público. Mesmo que seja salvaguardada esta dimensão, o neoliberalismo faz da educação um serviço, cuja eficiência e produtividade de resultados é directamente proporcional à intervenção dos grupos de mercado. Concordo com Sacristán (2000: 51) quando refere que nem todos os males sociais, incluindo os do mundo educativo, podem atribui-se à incursão neoliberal, sem que se mencione a crise das ideias progressistas e o triunfo, pelo menos parcial, do pensamento débil. É condenável sob todos os pontos de vista a exploração do homem pelo homem. Será um acto mais pernicioso se ele for desencadeado por um seu par. Reúne um elevado consenso a ideia de que os professores auferem vencimentos pouco compatíveis com a relevância social da sua função. É legítimo que os professores procurem melhores condições materiais. As perversidades e os paradoxos avultarão no sistema educativo enquanto este não se colocar declaradamente, sem preconceitos ideológicos, ao lado dos alunos e das suas necessidades (incluindo a sua preparação para a profissão). Embora a organização da escola padeça dos males que caracterizam todo o sistema educativo, existem escolas que disponibilizam apoios educativos aos alunos dentro e fora do horário de trabalho do professor (alguns destes professores utilizam voluntariamente parte do seu tempo livre para ajudar os alunos). Surpreendentemente, ou talvez não, verificamos que o recurso à escola paralela continua a ser privilegiado. Não é fácil separar o trigo do joio, sobretudo quando temos dificuldade em identificar o trigo.