O episódio do presidente da Câmara de Marco foi amplamente tratado pela comunicação social. Questionou-se a (in)coerência dos regulamentos disciplinares desportivos que não têm impedido a acção dos prevaricadores incessantes; a (in)eficácia dos agentes da GNR que vêem a sua acção coarctada pelas amarras ao poder local; a (descom)postura dos representantes legítimos do povo que têm dificuldade em despir a camisola de autarcas que lhes dão a acessibilidade às benesses da paróquia; a complacência dos órgãos dirigentes desportivos (ressalvo a tomada de posição de um colectivo de árbitros) como atesta as declarações do Presidente da Liga de Futebol que rapidamente se esforçou por minimizar a dimensão do problema transferindo a culpa para a presença da televisão; a indisfarçada dificuldade em lidar com a situação pelos activistas políticos que estabeleceram uma espécie de pacto de não agressão até porque todos os partidos políticos têm telhados de vidro nesta matéria (a recusa do líder parlamentar do PP que se escusou a comentar o facto); o serviço público prestado pela comunicação social que, embora tenha explorado e rentabilizado a situação sob uma óptica mercantilista, não procurou restabelecer um debate acerca da definição de um perfil para cargos desta natureza; e finalmente, o discurso do senso comum que aprova este tipo de actos e que reflecte a desconfiança na acção judicial dando sinais, preocupantes no meu entender, de quem procura fazer justiça com os seus próprios meios.
Aproveitando a actualidade deste episódio político-desportivo não devemos desperdiçar a oportunidade para relançar o debate sobre o desenvolvimento do nosso sistema democrático.
Um aspecto que não gerará grande controvérsia é a de que a relação Educação Física Desporto está em processo de mudança. Gustavo Pires (2003) diz, e bem no meu entender, que a educação física já começou a mudar sem sequer ter dado por isso. Isto significa que o está a fazer sem que muitas pessoas tenham sequer consciência daquilo que está a mudar. Acredito que estas mudanças operadas na Educação Física derivam da transição inquieta da sociedade, que se traduz não só pelo colapso da certeza como pela crise dos propósitos morais, decorrentes das mudanças verificadas no ensino e no trabalho dos professores, como retrata de forma exemplar o trabalho de Hargreaves (1998). Este trajecto de mudança é acompanhado por uma nova hierarquização axiológica da nossa sociedade. Se nada do que é humano deve ser esquecido na educação (Patrício, 1993), não há motivos para que a Educação Física fique indiferente aos valores emergentes?
Abro aqui uma nova frente de debate para determinar o lugar das modas na educação. No que concerne à EF, Garcia (1999) defende as modas (mesmo as desportivas), quiçá contra determinado pensamento hegemónico no desporto e na Educação Física porque acredita que são portadoras de uma ética que se edifica na liberdade.
Será que as restantes áreas disciplinares estarão imunes ao fervilhar dos tempos? Se atender ao empolamento da contenda que envolveu a inclusão do regulamento de um programa televisivo de má qualidade nos manuais de Português, prevejo um grande ruído na escola.
. Outro Olhar... só no blog...
. Exemplos que (nada) valem...
. Outros olhares... a mesma...
. E esta?