Segunda-feira, 28 de Junho de 2004
A acalmia que regressa à escola contrasta com a agitação no governo provocada pelos efeitos da fuga do primeiro-ministro. Enquanto que de um lado estão reunidas as condições para, individualmente ou em grupo, se pensar e reflectir no que passou projectando o próximo ano lectivo, do outro lado, a dança das cadeiras vai começar.
É uma boa oportunidade para o Dr. Justino brilhar porque já conhece as regras do jogo e tem mais tempo de prática. Foi, sem dúvida, uma boa oportunidade para ele. Deste modo, poderá abandonar as suas funções de forma não compulsiva.
Por falar em saída, é isso que me proponho fazer regressando lá para o final da semana.
O espectáculo tomou conta do nosso quotidiano. Agregado aos órgãos de comunicação social, o espectáculo aparece disfarçado de desporto, política, religião, informação, formação, etc. É incontornável a incursão mediática sobre as mais diversas manifestações humanas e não adianta carpir mágoas suspirando por um tempo que já lá vai. É a lógica imediatista, consumista e vertiginosa que ordena o quadro valorativo deste tempo. As reacções não tardam e chegam os clichés: o país só pensa no futebol, os políticos são um logro, os jornalistas são caixas de ressonância deste ou daquele partido político, etc.
Teremos razões para nos preocuparmos? Será que existe o risco do desporto deixar de ser plural, assim como a política e as restantes actividades sociais?
Como é que a educação e a escola lidam com o efémero? De que forma a escola projecta o seu futuro?
Sábado, 26 de Junho de 2004
Regresso feliz da festa da família (é assim designada a festa dos alunos finalistas de ciclo). Foi um dia intenso e repleto. Sei que este olhar não é neutro, mas sinto um desmedido orgulho pela prestação, entusiasmo e pela vivacidade da Ana. Vê-la ganhar o seu espaço, crescer com os outros, conquistar autonomia, regozijar com o seu trabalho. Admirar a dedicação dos funcionários e professores, valorizar as pequenas tarefas, agradecer o esforço anónimo raramente merecedor de louvores públicos. A festa foi tudo isto.
Hoje entro na escola na qualidade de encarregado de educação. A festa dos finalistas (é assim que lhe chamam porque os alunos mais velhos, os alunos do 9º ano, concluem o seu percurso nesta escola) seria uma oportunidade para que revelar a polivalência da escola. E digo seria, porque na verdade a escola não é pluridimensional (talvez seja desnecessário voltar a justificar esta afirmação) e a festa, podendo não reflectir essa diferença conceptual, será sempre um marco para todos os alunos. Ora, como estava a dizer, vou participar na festa, nas actividades reservadas aos encarregados de educação. Vou assistir, apreciar e aplaudir as representações teatrais, as danças, os jogos, o lançamento do CD (cancioneiro popular), porque o sarau cultural é rico.
Um professor dizer que entra na escola como encarregado de educação é, no mínimo, estranho.
Será que o olhar de um professor é metamorfoseado só (?) porque aquela comunidade educativa contém uma pessoa especial?
Nasceu um outro olhar. Talvez esta
aragem se transforme numa nortada. O tempo ditará a intensidade do sopro.
Sexta-feira, 25 de Junho de 2004
Desde o início que elegi a Escola como o espaço privilegiado, aquele que suscitaria o meu olhar. Não tem sido difícil encontrar assuntos que mereçam a minha atenção. Quantas discussões ficaram a meio do caminho só porque a oportunidade se esvai? Quantos temas emergiram e desapareceram sem deixar rasto, ficando tudo, ou quase, por dizer? Ainda não estou certo que este meu compromisso possa ser mantido por muito mais tempo. Talvez sejam apenas as dores de crescimento que suscitam este olhar.
Como sabem (?), a minha área disciplinar encontrou no desporto uma matéria de ensino. Como poderia ter ficado indiferente a um fenómeno desportivo com a dimensão do Euro 2004? Tenho vivido este fenómeno com intensidade. Não me refiro apenas à exteriorização de um conjunto de sentimentos de filiação. Não me refiro à alienação colectiva que emergiu com o golo marcado pelo Ricardo.
O Euro 2004 é um evento desportivo que merece outros olhares.
Quinta-feira, 24 de Junho de 2004
Quarta-feira, 23 de Junho de 2004
Muitas das conversas na escola gravitam em torno do nosso pequeno mundo circunscrito à nossa área disciplinar e, não raras vezes, reduzindo-se à filtragem que fazemos dos conteúdos adstritos à disciplina.
É um outro olhar que sugerem as palavras de
Sacristán (2002: 94): 
Nem sempre o que a escola converteu no currículo em ritos relevantes o é na realidade e nem tudo o que desconsiderou é irrelevante.
Terça-feira, 22 de Junho de 2004
Numa passagem por um blog dedicado ao ensino superior encontrei dois comentários que versavam a necessidade de um encurtamento dos planos de estudo na sequência do processo de Bolonha. Alguém dizia (o autor desculpar-me-á por esta grave omissão:) que uma das grandes metas do ensino superior é conduzir os alunos à reflexão, ao desenvolvimento da capacidade crítica que se consubstancia nesta grande aquisição que é o aprender a pensar. Alguém acrescentava, e bem, que o saber não deveria ser negligenciado. Surgem as grandes polémicas quando se trata de seleccionar (e reduzir?) os conteúdos culturais.
Olhando para o nível básico e secundário, a escola cumpre a sua função de inserção dos sujeitos na cultura através da apropriação do saber (quais?). É esta a especialização da escola e da educação. Uma oportunidade para fazer entranhar cultura no indivíduo (com diria o professor Patrício). À escola incumbe a filtragem dos conteúdos culturais tendo em conta as necessidades dos indivíduos que a formam.
Subscrevo inteiramente a ideia defendida pelo meu amigo
Manuel que rejeita o centralismo (constrangedor das iniciativas locais) consubstanciado na homogeneização cultural (que tem dificuldade em lidar e integrar as diferenças).
Considero que a questão suscitada na entrada anterior merece uma atenção redobrada num quadro em que o ensino secundário passa a ser obrigatório.
O ensino secundário esteve desde sempre marcado por uma mentalidade elitista manifestada nas concepções dos professores, na especificidade dos currículos e numa imagem social deste nível de ensino que funciona como uma antecâmara do ensino superior.
No momento em que a educação secundária passa a ser obrigatória passa a ser uma educação geral, isto significa que é válida para todos. É dizer ao aluno que o objectivo é enriquecê-lo a partir do ponto em que se encontra e do qual se parte.
As críticas incidirão sobre a eventual perda de qualidade do ensino e as resistências sobre a eliminação do elitismo social promoverão, na minha perspectiva, vias paralelas que satisfaçam a normalização e homogeneização académica e social.
Sendo o ensino secundário a porta de entrada para o ensino superior como é que se pode conciliar a educação geral com a especificidade curricular e a exigência de um nível propedêutico?